Quem quer ser professor?

30 de novembro de 2021

"Editorial", de Andreia Sanches, no Público (Edição de 18 de novembro de 2021)

 

O estudo que o Ministério da Educação apresentou nesta quarta-feira [17/nov] é um murro no estômago: em dez anos, 39% dos professores vão reformar-se. Precisaremos de mais de 34 mil profissionais, no mínimo, até ao ano lectivo 2030/31, já contando que também haverá uma redução do número de alunos nas escolas, fruto da quebra de natalidade dos últimos anos. No ensino pré-escolar, o cenário é tão grave quanto isto: seis em cada dez educadores actualmente no activo estarão aposentados em 2030.

Se causa indignação que nesta altura do ano, dois meses depois do arranque das aulas, ainda haja alunos sem professor, o cenário traçado por uma equipa de investigadores da Nova SBE, em parceria com a Direcção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência, é este: se nada for feito, não só faltarão cada vez mais docentes como não está garantida a qualidade dos mesmos.

Como aqui escrevemos recentemente, este é o maior problema da Educação. Na apresentação do estudo, percebeu-se que o plano para o atacar passa essencialmente por alargar a base de recrutamento. Como são cada vez menos os jovens a escolher estudar especificamente para vir a dar aulas, vai ser revista a lista de cursos que conferem habilitação própria para a docência. Vão também rever-se as regras para que diplomados de outras áreas, que não as do ensino, se possam converter mais rapidamente em professores profissionalizados.

É um caminho possível — seguramente dará origem a debate nos próximos tempos, porque há quem entenda que há riscos de se baixar a fasquia da qualidade —, e está em linha com as soluções que estão a ser encontradas noutros países europeus. Mas para atrair diplomados de outras áreas é preciso muito mais.

É preciso que a profissão seja atractiva. Que quem está nas escolas não seja esmagado pela burocracia e pelo cansaço e se sinta valorizado. É preciso que haja condições efectivas para ensinar, nomeadamente em zonas mais desfavorecidas e com mais problemas sociais. E que se combata a indisciplina. E se dê liberdade às escolas para construir projectos aliciantes. Por fim, face à dimensão da escassez que já existe em certas regiões, são precisos incentivos para fixar docentes em alguns locais (como existem para os médicos).

Se isto não for feito, e no plano apresentado não se vislumbram essas medidas, corremos o risco de o número de interessados em seguir esta carreira, mesmo provenientes de outras áreas de formação, não ser suficiente para suprir de forma sustentada as necessidades futuras.

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