Insucesso na Matemática? Ministra da Educação não foge à regra...

Pois é, isto do insucesso nacional a Matemática deve mesmo ser uma fatalidade! Pois se nem a Ministra da Educação escapa!...

 

Se calhar, até duvidam... Mas é mesmo verdade! A afirmação acima feita comprova-se pela análise de uma passagem de uma entrevista feita a Maria de Lurdes Rodrigues, por Carlos Filipe Mendonça, e publicada no Jornal de Negócios do passado dia 07-11-2006, sob o título "Faltas às aulas dos professores caem 40%"

 

Ora, atente-se nesta resposta da Senhora Ministra:

 

Jornal de Negócios: Porque é que insiste na necessidade de estruturar a carreira docente em duas categorias?  
 
M.E.: Actualmente, temos nos quadros 140 mil professores: 65 mil estão no 8º, 9° e 10° escalões. Um professor do 10° escalão ganha o dobro de um em início de carreira (4º escalão). Entre o 4º e o 6º escalão, o professor leva 12 anos para ter um impulso salarial de 54 pontos. Do 9º para o 10° escalão são apenas três anos para os mesmos 54 pontos. Imaginem o efeito que isto tem agregado, quando temos 65 mil professores nesses últimos escalões. Se não fizéssemos nada, tirando as saídas, em seis anos teríamos estes 65 mil professores no 10° ano escalão. Isto não tem problema nenhum só por si...

 

A verdade e a mentira nas palavras da Senhora Ministra

 

Lendo-se esta resposta, saltam à vista as razões da crítica, que aqui deixo, numa análise dado por dado, a que se acrescentam alguns... pormenores...

 

  1. É mentira que haja 140 mil docentes nos quadros: eles são, de acordo com elementos fornecidos pelo próprio Ministério da Educação, 126 752.

 

  1. É verdade que são cerca de 65 mil os docentes posicionados nos três últimos escalões (8º, 9º e 10º). Mais concretamente, são 65 958.

 

  1. É mentira que um professor do 10º escalão ganhe o dobro de um em início de carreira, ou, dito de outra forma, é mentira que o salário de um docente em início de carreira chegue a metade do de um no topo da carreira. Ah, e também é mentira que o início de carreira seja no 4º escalão: é no 3º, a que corresponde o índice 151, enquanto no topo - 10º escalão - o índice é o 340. O início é, pois, bem menos de metade do topo. Também por isso é que, na União Europeia ainda a 15, e já ponderado o factor custo de vida, só no Reino Unido o vencimento de um professor ou educador em início de carreira é inferior ao português... Mas isto só mostra que há que valorizar os índices inferiores da carreira, mais nada!

 

  1. Tendo, então, em conta o 3º escalão (e não o 4º), é verdade que são necessários 12 anos para chegar ao 6º escalão, ou seja, para ter um impulso salarial de 54 pontos indiciários (do 151 para o 205);

 

  1. Mas já é mentira que, do 9º escalão para o 10º, esse tempo seja apenas de três anos, pois é de cinco, quase o dobro! E é ainda mentira que o impulso salarial entre os 9º e 10º escalões seja também de 54 pontos, pois é apenas de 41 - do índice 299 para o 340.

 

  1. É verdade que o número e mesmo a percentagem de docentes nos escalões de topo se manteriam? Não, até teriam tendência para aumentar! Mas também é verdade que a carreira docente ainda em vigor tem 26 anos (tempo que medeia entre o início de funções e a possibilidade de atingir o topo), enquanto a média da OCDE é de 24 anos. E também é verdade que esse aumento muito se ficaria a dever aos recentes aumentos da idade mínima e do tempo de serviço necessários para a aposentação voluntária!

 

Perante isto, quem é que precisa de uma ajudinha com os números, ou de um eventual plano para o reforço da Matemática, quem é?!

 

José Manuel Costa

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