Óscar Lopes (1917-2013)

ÓSCAR LOPES morreu na Sexta-feira, 22 de março. 

Sócio honorário do Sindicato dos Professores do Norte (SPN),ocorpo de Óscar Lopes permaneceaté sábado, 23, na Associação de  Jornalistas e Homens de Letras do Porto (junto à Praça de D. João I), onde às 15h haverá uma breve cerimónia;  segue depois para o cemitério de Matosinhos, onde será cremado às 16h30.

Prestando pública homenagem ao cidadão, ensaísta e professor, a direção do SPN expressa sentidos pêsames à família de Óscar Lopes, 

bem como aos seus amigos e a todos quantos partilham esta inestimável perda.

Licenciado em Filologia Clássica pela Faculdade de Letras de Lisboa, e tendo frequentado o curso de Ciências Histórico-Filosóficas em Coimbra e o Conservatório de Música do Porto, ÓSCAR LOPESfoi professor do Ensino Secundário (liceus de Vila Real e Alexandre Herculano e Rodrigues de Freitas, no Porto)até integrar, entre 1974-1987, o corpo docente da Faculdade de Letras do Porto. Opositor à ditadura de Salazar e Caetano, foi detido duas vezes, afastado temporariamente do ensino oficial e muitas vezes impedido de participar em eventos para que foi convidado no estrangeiro. Como autor, teve obras proibidas e apreendidas.

Com uma formação multifacetada e especializadoem diversas áreas (linguística, literatura, musicologia, história, filosofia), a Assembleia da República reconheceu ÓSCAR LOPES  como "referência obrigatória da cultura portuguesa contemporânea", através de um voto de louvor aprovado em 23 de abril de 1987 – ano em que foi homenageado pelo SPN.

Militante do Partido Comunista Português desde 1944, ÓSCAR LOPES entrou para a política  “conspirando”com Vitorino Magalhães Godinho e o grupo de socialistas liderado por António Macedo. Fez parte da geração que, nos anos 1940, na Seara Novae na Vértice, defendeu uma arte ideologicamente comprometida e teorizada a partir do marxismo dialético.

Como autor, são-lhe  frequentemente  destacados os Estudos de Linguística, a Gramática Simbólica do Português, obra pioneira e que constitui um marco dos estudos linguísticos em Portugal, e a História da Literatura Portuguesa (co-autoria 

com António José Saraiva), publicada em 1953, e com um número invulgar de  edições e reimpressões.

Pelos trabalhos de ensaio e crítica literária, ÓSCAR LOPESfoi distinguido com os  prémios Rodrigues Sampaio (Associação dos Jornalistas e Homens de Letras do Porto), Jacinto do Prado Coelho(Centro Português da Associação Internacional de Críticos Literários) e Vida Literária(Associação Portuguesa de Escritores). 

ÓSCAR LOPES foi agraciado com a Grã-Cruz da Ordem da Instrução Pública (1989) e com a Ordem da Liberdade(2006).

 

 

OQUE DISSERAM SOBRE ÓSCAR LOPES
“A sua licenciatura em Filosofia Clássica (Lisboa), a sua preparação musical no 
Conservatório do Porto e filosófica na Universidade de Coimbra, durante o 
magistério de Joaquim de Carvalho; depois a sua frequência de universidades e 
institutos estrangeiros, sempre levado por funda curiosidade científica orientada para 
as novas correntes do surto das ciências sociais, prepararam-no excepcionalmente 
para a situação de cumieira que ocupa na cultura portuguesa.
Dotado de viva inteligência, de agudo espírito crítico, do gosto da análise a partir de 
enfoques múltiplos, alternando-a com sínteses parciais que procura fazer convergir 
em conclusões globais seguras, a sua crítica da literatura portuguesa e, em geral, do 
nosso pensamento é uma das mais fortes e fecundas. [...] Um gosto literário seguro, 
aliado à compreensão dos movimentos estéticos modernísticos e à posse de 
métodos históricos e críticos actualizados, fez dele um dos mais influentes 
historiadores actuais da cultura portuguesa, tanto na criação especificamente 
literária como na história das ideias, na sociologia da cultura, na pedagogia e 
nalguns aspectos da psicologia.
Uma boa preparação matemática permitiu-lhe propor-se tratar algoritmicamente 
problemas de psicologia, linguística e semiótica em geral. [...]
Enfim, sou de parecer que o licenciado Óscar Luso de Freitas Lopes tem méritos 
excepcionais paraser proposto professor catedrático efectivo da Faculdade de 
Letras da Universidade do Porto, independentemente de concurso de provas 
públicas, segundo a legislação vigente de provimento por distinção ou escolha.”
Vitorino Nemésio, 10.07.1975
“Óscar Lopes foi uma das vozes mais autorizadas e representativas da cultura 
portuguesa. 
Com ele fecha uma espécie de ciclo da nossa vida histórica, por um lado, mas 
também política e ideológica, sob a égide ou referência de uma visão do mundo, que 
foi o marxismo de que a obra dele está impregnada, mas tem uma importância 
superior a isso e ultrapassou-a.
Devem-se a ele críticas e análises da nossa história literária que são incontornáveis, 
tendo tocado diferentes autores, da geração de Orpheu a mais recentes.
Este é um dia de luto para a cultura portuguesa e particularmente para a nossa 
geração.”
Eduardo Lourenço, 22.03.2013 (à agência Lusa)
OQUE DISSE ÓSCAR LOPESSOBRE...
A minha infância era católica, monárquica e conservadora. Fui menino do coro, 
ajudei à missa, andava nas procissões, levei com todas essas coisas – era o meu 
ambiente. Mas foi precisamente contra isso que reagi. Desde muito cedo, aí pelos 
nove anos, comecei a ter aquilo a que se pode chamar “consciência ideológica”. 
Escrevi uma coisa aos 11 anos, que a minha mãe guardou, em que explicava 
porque é que não podia acreditar em Deus. Diziam-me: Deus é a causa de tudo. 
Perguntei logo: e a causa de Deus, onde é que está?
Houve uma revolta que desde muito cedo me levou a ser sensível à pobreza. Vi 
famíliassem casa, crianças que morriam como tordos, uma coisa medonha. Para 
irem a enterrar, punham-se as crianças com uma tacinha para as pessoas darem 
esmola. Os pedintes chegavam a fazer cancros, nos braços, no corpo, esfregando 
alho e outras coisas, não sei bem... Era o meu “espectáculo” de todos os dias. E, 
nessa altura, já tinha um enorme remorso de ser burguês por tomar conhecimento 
directo com a miséria e não poder fazer nada.
Eu comecei a ficar surdo por volta dos 12 anos, por causa de um sarampo mal 
curado. Mas aprendi música e cheguei a estudar piano. Só não continuei porque, 
quando fui para Lisboa, tirar Letras, não tive dinheiro para prosseguir. Acabei por ir 
para Filologia Românica –estudar latim, grego e sânscrito para tentar saber como é 
que os homens tinham começado a falar –, mas estive hesitante em ir para música, 
porque sempre compreendi a música como uma fala. Cheguei a dividir as orações a 
cantarolar, era um dos meus passatempos... Desde muito cedo, um dos meus 
grandes problemas –e mistério –era o de saber o que significa a linguagem. O que 
é falar? Ainda hoje me preocupa. Se quiser, é a minha religião. A linguagem é um 
dom da espécie humana.
A minha figura tutelar foi Eça de Queirós. O primeiro livro que li, com uns 12, 13 
anos, foi “A Ilustre Casa de Ramires”. Quando estava angustiado, bastava ler Eça 
para me tonificar. Eça tem um tal humor e uma tal capacidade de compreender 
aqueles que sofrem.
A ideia de império não me dizia nada. Uma coisa que me causou muita impressão 
foi a Exposição Colonial no Porto, em 1934. Os negros que trouxeram morreram 
como tordos porque não aguentaram o Dezembro do Porto. Cedo me despeguei das 
colónias, embora admirasse a História da Expansão.
Salazar é uma personagem complexa. Pessoalmente, tenho uma certa simpatia por 
ele [risos], por certos aspectos da personalidade dele –aquele mutismo, aquela vida 
quase de monge. A figura de Salazar compreendo-a em certos aspectos. Mas não 
podia entender os ataques às convicções dos outros, de censura, que surgem desde 
muito cedo. E ainda não era comunista, tinha apenas simpatias.
Os comunistas tinham medo de se aproximar de mim, talvez porque sabiam que a 
minha família era conservadora. Os contactos com os comunistas eram difíceis, 
eram comunistas de café, de discussão.Era uma cartilha, bê-á-bá Santa Justa, não 
me dei com eles. É em Vila Real, em 1944, que me torno comunista. Fui eu próprio 
que pedi a um colega meu de liceu. Fui ter com ele e disse-lhe: “Eu sei que tu és 
comunista e eu também gostava de ser.”
A minha simpatia, como ainda hoje, era pelo movimento, pelas pessoas que não têm 
nada. Agora o que se passou indubitavelmente que me aflige. Mas as coisas por que 
eu lutava eram, de facto, democráticas. Entre um comunista soviético e um 
comunista português há uma diferença enorme.
Tenho uma grande estima por Cunhal. Foi o homem que esteve sempre na mó de 
baixo. Estou convencido de que nunca cairia nas brutalidadesde um Estaline. É um 
homem cultíssimo, tem uma cultura estética e literária fortíssima. A dirigir o Comité 
Central era o mais democrático de todos. Por exemplo, quando a Zita Seabra estava 
já a sair do partido, e havia camaradas que queriam interrompê-la, ele não deixava. 
Tenho boa impressão dele; acredito que tenha tido as suas oscilações, mas, dentro 
dos homens do 25 de Abril, é um dos que é mais sinceramente democrata.
Mário Soares é popular, agrada facilmente. São aspectos, porém, muito 
enganadores que nunca me prenderam muito...
Na prisão estive cerca de seis meses sempre isolado, só tinha a visita da família. 
Não gosto de falar muito sobre isso e muito menos gosto de fazer papel de herói, até 
porque nunca me bateram, nunca sofri maus tratos. Os incómodos maiores, se 
calhar bem piores do que me baterem, era quando me acordavam a meio da noite. 
Eu tinha um sono difícil e eles perceberam isso e acordavam-me para ver se eu me 
descaía. Era terrível.
Tinha alguma simpatia por Marcello Caetano, mas era um homem sem estofo, não 
resistiu. E nunca acreditei naquilo. O marcelismo era uma agonia do regime, embora 
também não soubesse como é que ia terminar, como veio, com o 25 de Abril –que
eu não acreditava que levasse à revolução.
Soube do 25 de Abril pelo telefone e depois liguei a televisão. Foi uma grande 
alegria, sou capaz de ter deitado uma lágrima, mas,ao mesmo tempo, fiquei muito 
perplexo. Perguntava a mim próprio: como é que isto foi possível?
Acredito[numa revolução comunista]. Bem, em primeiro lugar uma revolução 
comunista não é necessariamente uma coisa violenta. E já não acredito numa 
revoluçãoportuguesa, mas sim numa alteração ao nível da Europa ou da Península 
Ibérica. A qualquer momento pode dar-se, porque não acredito no capitalismo. 
Talvez só nos EUA e em condições muito especiais...
A vida está ser decidida por um grupo muito pequeno de pessoas. O Parlamento 
Europeu tem muita pouca expressão. Todo o problema europeu está na maneira 
como se constrói. Continuo a não ver aquilo que os portugueses querem 
representado no Parlamento Europeu. E, pelo contrário, vejo que muitas vezes se 
tomam decisões pela via da intriga. Há decisões que se tomam em que os europeus 
não têm nenhum peso. 
Excertos de entrevista ao Público, 08.08.1999 

OQUE DISSERAM SOBRE ÓSCAR LOPES

“A sua licenciatura em Filosofia Clássica (Lisboa), a sua preparação musical no Conservatório do Porto e filosófica na Universidade de Coimbra, durante o magistério de Joaquim de Carvalho; depois a sua frequência de universidades e institutos estrangeiros, sempre levado por funda curiosidade científica orientada para as novas correntes do surto das ciências sociais, prepararam-no excepcionalmente para a situação de cumieira que ocupa na cultura portuguesa.

Dotado de viva inteligência, de agudo espírito crítico, do gosto da análise a partir de enfoques múltiplos, alternando-a com sínteses parciais que procura fazer convergir em conclusões globais seguras, a sua crítica da literatura portuguesa e, em geral, do nosso pensamento é uma das mais fortes e fecundas. [...] Um gosto literário seguro, aliado à compreensão dos movimentos estéticos modernísticos e à posse de métodos históricos e críticos actualizados, fez dele um dos mais influentes historiadores actuais da cultura portuguesa, tanto na criação especificamente

literária como na história das ideias, na sociologia da cultura, na pedagogia e nalguns aspectos da psicologia.

Uma boa preparação matemática permitiu-lhe propor-se tratar algoritmicamente problemas de psicologia, linguística e semiótica em geral. [...]

Enfim, sou de parecer que o licenciado Óscar Luso de Freitas Lopes tem méritos excepcionais paraser proposto professor catedrático efectivo da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, independentemente de concurso de provas públicas, segundo a legislação vigente de provimento por distinção ou escolha.”

Vitorino Nemésio, 10.07.1975

 

“Óscar Lopes foi uma das vozes mais autorizadas e representativas da cultura portuguesa.

Com ele fecha uma espécie de ciclo da nossa vida histórica, por um lado, mas também política e ideológica, sob a égide ou referência de uma visão do mundo, que foi o marxismo de que a obra dele está impregnada, mas tem uma importância superior a isso e ultrapassou-a.

Devem-se a ele críticas e análises da nossa história literária que são incontornáveis, tendo tocado diferentes autores, da geração de Orpheu a mais recentes.

Este é um dia de luto para a cultura portuguesa e particularmente para a nossa geração.”

Eduardo Lourenço, 22.03.2013 (à agência Lusa)

 

O QUE DISSE ÓSCAR LOPES SOBRE...

A minha infância era católica, monárquica e conservadora. Fui menino do coro, ajudei à missa, andava nas procissões, levei com todas essas coisas – era o meu ambiente. Mas foi precisamente contra isso que reagi. Desde muito cedo, aí pelos nove anos, comecei a ter aquilo a que se pode chamar “consciência ideológica”.

Escrevi uma coisa aos 11 anos, que a minha mãe guardou, em que explicava porque é que não podia acreditar em Deus. Diziam-me: Deus é a causa de tudo. Perguntei logo: e a causa de Deus, onde é que está?

Houve uma revolta que desde muito cedo me levou a ser sensível à pobreza. Vi famíliassem casa, crianças que morriam como tordos, uma coisa medonha. Para irem a enterrar, punham-se as crianças com uma tacinha para as pessoas darem esmola. Os pedintes chegavam a fazer cancros, nos braços, no corpo, esfregando alho e outras coisas, não sei bem... Era o meu “espectáculo” de todos os dias. E, nessa altura, já tinha um enorme remorso de ser burguês por tomar conhecimento directo com a miséria e não poder fazer nada.

Eu comecei a ficar surdo por volta dos 12 anos, por causa de um sarampo mal curado. Mas aprendi música e cheguei a estudar piano. Só não continuei porque, quando fui para Lisboa, tirar Letras, não tive dinheiro para prosseguir. Acabei por ir para Filologia Românica –estudar latim, grego e sânscrito para tentar saber como é que os homens tinham começado a falar –, mas estive hesitante em ir para música, porque sempre compreendi a música como uma fala. Cheguei a dividir as orações a cantarolar, era um dos meus passatempos... Desde muito cedo, um dos meus grandes problemas –e mistério –era o de saber o que significa a linguagem. O que é falar? Ainda hoje me preocupa. Se quiser, é a minha religião. A linguagem é um dom da espécie humana.

A minha figura tutelar foi Eça de Queirós. O primeiro livro que li, com uns 12, 13 anos, foi “A Ilustre Casa de Ramires”. Quando estava angustiado, bastava ler Eça para me tonificar. Eça tem um tal humor e uma tal capacidade de compreender aqueles que sofrem.

A ideia de império não me dizia nada. Uma coisa que me causou muita impressão foi a Exposição Colonial no Porto, em 1934. Os negros que trouxeram morreram como tordos porque não aguentaram o Dezembro do Porto. Cedo me despeguei das colónias, embora admirasse a História da Expansão.

Salazar é uma personagem complexa. Pessoalmente, tenho uma certa simpatia por ele [risos], por certos aspectos da personalidade dele –aquele mutismo, aquela vida quase de monge. A figura de Salazar compreendo-a em certos aspectos. Mas não podia entender os ataques às convicções dos outros, de censura, que surgem desde muito cedo. E ainda não era comunista, tinha apenas simpatias.

Os comunistas tinham medo de se aproximar de mim, talvez porque sabiam que a minha família era conservadora. Os contactos com os comunistas eram difíceis, eram comunistas de café, de discussão.Era uma cartilha, bê-á-bá Santa Justa, não me dei com eles. É em Vila Real, em 1944, que me torno comunista. Fui eu próprio que pedi a um colega meu de liceu. Fui ter com ele e disse-lhe: “Eu sei que tu és comunista e eu também gostava de ser.”

A minha simpatia, como ainda hoje, era pelo movimento, pelas pessoas que não têm nada. Agora o que se passou indubitavelmente que me aflige. Mas as coisas por que eu lutava eram, de facto, democráticas. Entre um comunista soviético e um comunista português há uma diferença enorme. Tenho uma grande estima por Cunhal. Foi o homem que esteve sempre na mó de baixo. Estou convencido de que nunca cairia nas brutalidadesde um Estaline. É um homem cultíssimo, tem uma cultura estética e literária fortíssima. A dirigir o Comité Central era o mais democrático de todos. Por exemplo, quando a Zita Seabra estava já a sair do partido, e havia camaradas que queriam interrompê-la, ele não deixava.

Tenho boa impressão dele; acredito que tenha tido as suas oscilações, mas, dentro dos homens do 25 de Abril, é um dos que é mais sinceramente democrata. Mário Soares é popular, agrada facilmente. São aspectos, porém, muito enganadores que nunca me prenderam muito...

Na prisão estive cerca de seis meses sempre isolado, só tinha a visita da família.

Não gosto de falar muito sobre isso e muito menos gosto de fazer papel de herói, até porque nunca me bateram, nunca sofri maus tratos. Os incómodos maiores, se calhar bem piores do que me baterem, era quando me acordavam a meio da noite.

Eu tinha um sono difícil e eles perceberam isso e acordavam-me para ver se eu me descaía. Era terrível.

Tinha alguma simpatia por Marcello Caetano, mas era um homem sem estofo, não resistiu. E nunca acreditei naquilo. O marcelismo era uma agonia do regime, embora também não soubesse como é que ia terminar, como veio, com o 25 de Abril –que eu não acreditava que levasse à revolução.

Soube do 25 de Abril pelo telefone e depois liguei a televisão. Foi uma grande alegria, sou capaz de ter deitado uma lágrima, mas,ao mesmo tempo, fiquei muito perplexo. Perguntava a mim próprio: como é que isto foi possível?

Acredito[numa revolução comunista]. Bem, em primeiro lugar uma revolução comunista não é necessariamente uma coisa violenta. E já não acredito numa revoluçãoportuguesa, mas sim numa alteração ao nível da Europa ou da Península Ibérica. A qualquer momento pode dar-se, porque não acredito no capitalismo.

Talvez só nos EUA e em condições muito especiais...

A vida está ser decidida por um grupo muito pequeno de pessoas. O Parlamento Europeu tem muita pouca expressão. Todo o problema europeu está na maneira como se constrói. Continuo a não ver aquilo que os portugueses querem representado no Parlamento Europeu. E, pelo contrário, vejo que muitas vezes se tomam decisões pela via da intriga. Há decisões que se tomam em que os europeus não têm nenhum peso.

Excertos de entrevista ao Público, 08.08.1999

 

 

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