A pandemia, o sobretrabalho e a desregulação de horários dos docentes

8 de junho de 2020

A pandemia, o sobretrabalho e a desregulação de horários dos docentes

 

Na atual situação, e com vista à contenção da Covid-19, as aulas no ensino superior têm decorrido “a distância”. Contudo, apesar da apregoada “facilidade” com que alunos e docentes se adaptaram, ficaram a nu as dificuldades materiais de muitos estudantes e as fragilidades da aprendizagem e avaliação neste contexto.

Mais ainda, com a adaptação às novas plataformas de ensino a distância, muitos docentes viram aumentar significativamente a carga horária em termos de serviço docente (mais tempo de preparação de aulas, mais tempo para inserção de conteúdos nas plataformas digitais, mais tempo para atendimento a alunos). Para responder a uma situação de emergência, muitos os docentes desdobraram-se a trabalhar de dia, de noite, e aos fins-de-semana, aceitando solidariamente uma fase extraordinária de sobretrabalho e desregulação dos horários. Acrescentemos que muitos docentes também têm de compatibilizar as atividades letivas com o cuidado a familiares dependentes, nomeadamente com os filhos, desde os mais pequenos, ainda não autónomos, até aos mais crescidos, também a frequentar o ensino a distância. Os professores estão esgotados. Basta!

O ensino a distância é reconhecidamente mais desgastante que o ensino convencional. Mas neste contexto, como vem referindo a Fenprof, não podemos sequer falar de ensino a distância: o que se tem feito é ensino de emergência. E não, os resultados não são generalizadamente os melhores para o processo de ensino e de aprendizagem.

Num contexto de preparação do próximo ano letivo, não se pode continuar a exigir que os docentes continuem em sobretrabalho. A pandemia da Covid-19 não pode ser desculpa para banalizar a desregulação do horário dos docentes do ensino superior, nem para aumentar situações de precariedade. A realização de todas as funções dos docentes, nas vertentes de ensino, investigação, gestão e extensão têm de caber em 35 horas semanais. Recordemo-nos disto. Não podemos aceitar tarefas que façam ultrapassar a carga horária legal.

Respeitem-se os docentes e garantam-se as condições de trabalho necessárias para que possam continuar a fazer o seu trabalho e a assegurar a qualidade do ensino sem verem os seus direitos laborais, que incluem o direito ao descanso, constantemente atropelados.

Respeitar os docentes é respeitar os estudantes e as famílias.

 
Departamento do Ensino Superior
Sindicato dos Professores do Norte

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