Provas de 9.º ano e de aferição não fazem sentido!

18 de março de 2022

No atual contexto educativo, sujeitar quase meio milhão de alunos a provas de aferição é uma inutilidade e levará a que professores e alunos deixem de se centrar naquilo que é essencial – as aprendizagens e a recuperação de laços de sociabilidade afetados pela pandemia.

O governo anunciou a sua decisão relativamente às provas de avaliação deste ano letivo. Assim, ficou a saber-se que, no 12.º ano, se manterão as normas do ano anterior, algumas previstas em documento do IAVE (informação da prova geral), divulgado em outubro. A informação agora divulgada (17/mar) limita os exames às disciplinas específicas para acesso ao ensino superior. Medida, de resto, defendida pela Fenprof, pelo que este anúncio peca por tardio. Os processos e modos de avaliação devem ser conhecidos desde o início e no presente ano letivo, e face à continuidade da pandemia, justificar-se-ia tê-lo sido.

O que não se esperava, porque não faz sentido, é a manutenção das provas de aferição dos 2.º, 5.º e 8.º anos, assim como a prova final de 9.º ano. Num ano atípico, como este, em que o mais importante é recuperar de perdas anteriores e tudo fazer para que não se acumulem novos prejuízos, o que não tem sido fácil, não se compreendem as razões por que o Ministério da Educação e o governo insistem em provas, sujeitando quase meio milhão de alunos, que, no atual contexto, serão inúteis. Para além disto, trata-se de mais uma sobrecarga de trabalho para os professores chamados a corrigir milhares e milhares de provas, quando importa canalizar o esforço para o trabalho com os alunos, incluindo o de recuperação de défices.

Justifica o governo que o objetivo é exclusivamente aferidor, procurando conhecer o nível de perda dos alunos. Sublinhe-se, de novo, que a aferição pode e deve ser feita por amostragem, e não de forma massiva, o que é ainda mais pertinente no contexto presente. Mas, para além disso, a justificação apresentada pelo governo não é convincente, pois, como os professores bem sabem, as perdas não foram uniformes, dependendo de inúmeros fatores, muitos deles exteriores à escola. Nos períodos de pandemia, as desigualdades acentuaram-se e as perdas dependeram muito de fatores de natureza familiar, económica e social ou de outros, aleatórios, como os níveis e intensidade da situação epidemiológica verificados em cada comunidade.

Neste quadro, ninguém melhor do que cada professor pode aferir a situação em cada escola, em cada turma e de cada aluno. As provas de aferição decididas pelo governo poderão pôr em causa essa avaliação individualizada e contextualizada, criando uma ideia falsa, porque global e uniformizadora, da situação.

 

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